segunda-feira, 22 de março de 2010

Carmen Adnet em "A Gazeta"

Ao Mestre Chopin

22/03/2010 - A Gazeta

Vitor Lopes

No ano em que se comemora o bicentenário de nascimento do pianista polonês Frédéric Chopin, o Brasil também rende suas homenagens ao compositor. Um dos maiores nomes da história da música mundial é celebrado em concertos ao redor do país e no lançamento do disco “Chopin”, da pianista Carmen Adnet, 80 anos, em que ela interpreta peças como “Nocturne in B Major, op. 9 nr. 3” e “Impromptu in Ab Major, op. 29 nr. 1” .


Capixaba de nascimento, Carmen tem neste álbum o seu primeiro disco solo. “Posso dizer que é o meu primeiro, apesar de ter feito outras gravações ao vivo ao longo da minha carreira, principalmente com a Orquestra de Viena”, comenta a pianista, que se encontra de passagem pelo Rio de Janeiro.

Carmen nasceu na Rua Gama Rosa, em Vitória, e começou os estudos no piano aos quatro anos, tendo aulas particulares com a tia Áurea Adnet. “Na época nascia-se em casa mesmo, não em hospital”, comenta. Segundo a musicista, a sua infância na cidade foi normal, com bastante tempo dedicado ao piano. “As pessoas sentiam que eu levaria o piano a vida inteira. Lembro que, aos 12 anos, fiz um concerto no Teatro Glória (Vitória)”.

Foi por conta da sua paixão pelo instrumento que sua família percebeu que o futuro dela poderia ser garantido caso ela aperfeiçoasse sua técnica. Por isso, aos 12 anos Carmen mudou-se para o Rio de Janeiro, de onde saiu formada pela Escola de Música da então Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Eu fui sozinha para o Rio, morar com os irmãos da minha mãe. Mas depois meus pais se mudaram também”, relembra.

Varsóvia
Após esses estudos em sua juventude, no ano de 1949 Carmen viajou para a Europa, com o objetivo de representar o Brasil no conceituado Concurso Internacional Chopin de Varsóvia, o primeiro realizado após a Segunda Guerra Mundial. No evento, ela foi considerada a favorita pelo público polonês. “Naquela época, a Polônia estava ocupada pelos russos. E o curioso é que os primeiros prêmios foram para os poloneses, os russos e para mim”.

A partir de então, a cantora realizou várias viagens à Europa, aperfeiçoando-se com o mestre polonês Josef Turczunski, e, já casada com o pianista vienense Hans Graf, obteve o diploma da Academia de Música de Viena.

“A mudança do Brasil para a Europa não foi muito brusca para mim, porque me acrescentei muito na Europa. Estudei com muitos professores bons, poloneses, austríacos. Foi assim que acabei entrando na Universidade de Viena, onde lecionei piano por 20 anos”, comenta a pianista, que entrou na Universidade em 1978. “Saí apenas porque tive de me aposentar, apesar de eu não sentir essa necessidade de precisar parar de trabalhar. Mas a lei exigia. Apesar disso, ainda dou aulas particulares”. Além disso, Carmen é até hoje professora emérita da instituição.

Para Carmen, não há diferença entre lecionar e tocar piano em apresentações. “É um mesmo sentimento e um mesmo prazer”, revela.

A respeito da gravação do disco, a pianista comenta que a escolha do repertório deu-se com naturalidade, já que é extremamente familiar às criações de Chopin. “A obra dele me encanta muito, principalmente porque ele escrevia especificamente para piano. Parece que nas músicas dele a nossa mão encaixa melhor no piano”, explica.

De acordo com Carmen, o processo de gravação foi rápido. Durou quatro dias, em maio do ano passado, e foi realizado no estúdio de Paula da Matta , na capital carioca, com a musicista tocando em um piano Steinway D Hamburgo. A produção ficou por conta de Chico Adnet.

Questionada se haverá shows para o lançamento do disco, ela é categórica: não. “Eu não quero mais tocar ao vivo. Quero fazer disco, ensinar, participar de júris de concursos. Não há salas apropriadas e os recursos são poucos”, explica a pianista, que tem em seu currículo diversas homenagens como a Comenda do Rio Branco e a Medalha Villa-Lobos, pelo governo brasileiro, e também a Grande Cruz de Honra 1ª Classe, concedido pela Áustria.

“Isso representa um reconhecimento do meu trabalho”, comenta Carmen, que se diz influenciada por compositores como Johannes Brahms, Beethoven e Johann Sebastian Bach.



 

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